Há exatamente 15 anos, no inverno de 1997, eu
havia fechado negócio com um hospital de médio porte, situado em uma pequena
cidade vizinha, aqui do sul de Minas Gerais. Este hospital estava em reforma e
várias unidades estavam sendo desativadas para serem substituídas pelas novas
salas, previstas no projeto de ampliação. Nesta época, eu estava instalando uma
nova rede de computadores, usando a nova topologia estrela para todo o sistema
de cabeamento. Essa empreitada me fez ficar a semana toda passando os cabos,
montando os conectores e testando todo o novo sistema de informática daquele
hospital. Eu saía da minha cidade de manhã, ficava o dia todo no hospital e,
algumas vezes, acabava voltando tarde da noite para casa.
Naquelas
semanas presenciei algumas coisas estranhas, mas somente depois de um tempo é
que liguei todos os fatos. Creio valer a pena deixar essa história eternizada
para aqueles que acreditam e, por que não, também para os que não acreditam nos
mistérios sobrenaturais que nos rodeiam.
O
antigo centro cirúrgico do hospital foi transformado em depósito provisório
para guardar equipamentos obsoletos e aparelhos desativados, entre eles os
velhos computadores, monitores e impressoras que naquele semestre estavam sendo
substituídos pelos novos equipamentos que haviam chegado recentemente. Eu fui
uma das pessoas de confiança que ficaram com as chaves daquela sala, pois, à
medida que eu ia instalando os novos equipamentos, precisava ir até lá para guardar
o equipamento antigo.
Durante
aquele período, eu sempre encontrava algumas enfermeiras de meia-idade e também,
vez ou outra, alguns enfermeiros que circulavam pelos corredores daquele setor
desativado. Todos eles vestiam-se de branco e sempre estavam conversando entre
si. Sempre que cruzava com eles no corredor que dava acesso às antigas
instalações, eu os cumprimentava desejando bom dia, boa tarde e, às vezes,
conforme o horário, boa noite. Eles sempre olhavam para mim e retribuíam
somente com olhares. Isso para mim era muito comum, pois sabia que todos
estavam sempre atarefados e em plena correria. Isso é normal dentro dos
hospitais.
Certa
vez, em uma quarta-feira, um enfermeiro me chamou no corredor, quando eu já
estava quase chegando próximo da porta do antigo centro cirúrgico.
–
André, o administrador está te chamando na sala dele – ele gritou.
Eu
me virei e retruquei:
–
Mas, ele não tinha ido embora?
Ele
então respondeu:
–
Ele acabou de voltar, parece que esqueceu alguma coisa no escritório e também
quer lhe falar sobre algo...
–
Tudo bem, já estou indo para lá... –
respondi para aquele enfermeiro.
Assim
que cheguei à sala da administração, vi que a mesma estava trancada. Fui até a
recepção e perguntei sobre o administrador para a moça que estava de plantão.
Ela disse que o Sr. Alberto havia saído poucos minutos antes das 19 horas e não
havia retornado. Insisti e ela disse que tinha plena certeza, pois havia
entrado no turno das 18 horas e por aquela porta nenhum funcionário da
administração havia passado.
Achei
aquilo muito estranho. Voltei com a
caixa cheia de cabos, CDs e manuais para o mesmo corredor onde eu havia sido
notificado por aquele enfermeiro. Cheguei novamente até a porta do antigo centro
cirúrgico e tentei abri-la, porém, nenhuma das minhas chaves servia naquela
fechadura.
Já
era noite, devia ser quase 20 horas. Eu escutava uma movimentação dentro
daquela sala, um falatório baixo, barulho de metais sobre a mesa... Achei até
que fosse uma visita dos técnicos que iriam levar um antigo equipamento
radiológico para reparos.
Novamente
aquele enfermeiro me chama:
–
André, desculpe, eu passei o recado errado pra você... Na verdade o Sr. Alberto
havia dito que era pra você ir embora mais cedo, pois o pessoal de São Paulo
está aí dentro desmontando o velho equipamento de raio X para levarem para consertar. Eu entendi errado,
fazendo você ir até a sala do Sr. Alberto (rs. rs. rs.). Oh... Que cabeça de
pano que eu sou...
–
Tudo bem – respondi.
–
Como é o seu nome mesmo? – aproveitei a ocasião para perguntar.
– É
Paulo Afonso.
–
Você mora em Ouro Fino? – ele perguntou.
–
Sim, e já estou indo embora. Vou deixar essas coisas lá na sala do CPD – completei.
–
André, a Maria Helena é minha amiga e está pegando as coisas dela no vestiário.
Ela pediu para falar com você se seria possível pegar uma carona até a metade
do caminho de Ouro Fino, pois ela vai passar a noite cuidando de um paciente
que mora nas proximidades da estrada, um velho conhecido dela. Seria possível
isso?
–
Claro Paulo. Pode falar que assim que eu acabar de guardar essas coisas estarei
lá fora, esperando por ela. Ok?
–
Valeu André, já vou avisá-la. Muito obrigado mesmo. Ela é gente muito boa, você
vai gostar de conhecê-la. Até amanhã então.
Paulo
saiu na direção contrária e eu fui guardar as coisas. Estava louco pra ir
embora, pois além do cansaço que tomava conta de mim, também estava com muita
fome.
Assim
que guardei aqueles objetos fui até o banheiro mais próximo, lavei minhas mãos
e saí das dependências do hospital. Fiquei lá fora, no meu carro, aguardando
pela tal Maria Helena, que nunca chegava. Eu já estava perdendo a paciência,
pois além de dar carona para uma desconhecida eu ainda tinha que ficar
esperando minutos e minutos por ela. Que dureza!
Já
estava quase ligando o carro e indo embora sozinho quando, do nada, aparece uma
enfermeira batendo levemente no vidro do lado do motorista. Levei um susto, mas
logo em seguida liguei as chaves, abaixei o vidro e pedi para ela entrar pelo
outro lado. Assim que ela entrou pude sentir um leve perfume de flores. Fomos,
então, conversando algumas coisas sobre o funcionamento daquele hospital
enquanto seguíamos pela estrada.
No
meio do caminho, vários veículos que vinham em sentido contrário começaram a
dar sinal de luz com os faróis, parecia que algo estava acontecendo mais
adiante naquela rodovia. Diminuí a velocidade e segui mais alguns quilômetros
até que precisei parar atrás de alguns veículos. A pista estava interditada
pela Polícia Rodoviária, pois um grave acidente havia ocorrido naquele local.
Depois
de alguns minutos ali parado, observei que vários motoristas deixavam seus
carros e saíam para ver o acidente mais de perto. Pedi para Maria Helena ficar
no carro e retirei a chave do contato. Saí um pouco e caminhei algumas dezenas
de metros adiante para ver o ocorrido. Não consegui chegar muito perto, pois os
policiais não deixavam as pessoas se aproximarem para não atrapalhar o socorro.
Aquilo estava uma verdadeira confusão. Pude ver que o pessoal do Corpo de Bombeiros
estava tentando cortar a lataria de um veículo Fiat Uno, que havia colidido
frontalmente com um caminhão.
Assim
que conseguiram retirar o acidentado de dentro do veículo, colocaram-no já quase
sem vida dentro da ambulância para levá-lo ao hospital mais próximo que, com
certeza, era aquele do qual eu acabara de sair quase uma hora antes.
Quando
retornei para meu carro Maria Helena não estava mais lá. Incrivelmente, havia
somente um forte perfume de rosas espalhado pelo interior do veículo. Gritei
algumas vezes por ela, mas, logo precisei entrar e partir, pois os motoristas dos
veículos que estavam atrás de mim já estavam todos impacientes. Maria Helena
devia ter saído do carro, procurado por mim e, não me encontrando devido a
tantas pessoas que estavam naquele local, resolvera, então, continuar o
restante do caminho a pé. Decerto, não faltava muito para ela chegar ao seu
destino, já que seu paciente morava nas proximidades daquele local.
No
dia seguinte, os comentários sobre o acidente da noite anterior reinavam pelos
corredores do hospital. Na hora do
almoço, quando a situação já estava mais calma, fui até a recepção e perguntei
para a recepcionista sobre o tal acidente. Queria saber mais detalhes sobre
aquilo. Ela me disse que o rapaz havia chegado com vida, porém veio a falecer
depois de algum tempo. Ele não havia suportado as fraturas pelo corpo e,
principalmente, o traumatismo craniano que sofrera naquele impacto brutal. Quando
ela mostrou a foto do rapaz, imediatamente eu o reconheci. Era o enfermeiro
Paulo Afonso. Aquele que havia conversado comigo na noite anterior e pedido a
carona para a enfermeira Maria Helena, que havia me deixado sozinho logo após
aquela confusão lá na estrada.
Mas,
a recepcionista Valquíria advertiu:
–
Não existe nenhum enfermeiro de nome Paulo Afonso aqui no hospital, muito menos
essa enfermeira chamada Maria Helena. Você deve estar confundindo os nomes,
André! – disse ela em um tom de riso e continuou:
– O
acidentado deu entrada ontem à noite aqui e, pelo jeito, como você está me
falando que deixou o hospital lá pelas 20 horas, deve ter chegado assim que
você saiu. Assim que deu entrada ele foi imediatamente para o novo centro cirúrgico,
mas não resistiu e foi a óbito.
Pedi
para Valquíria ligar no Departamento de Pessoal e verificar se existiam outros
funcionários com nomes parecidos com aqueles. Retornaram a ligação e disseram
que aqueles nomes nunca constaram nos livros de registro de funcionários
daquele hospital, nem mesmo nomes parecidos.
As
perguntas que hoje me faço são:
Será
que aquelas pessoas que sempre cruzavam comigo no corredor eram espíritos de
antigos funcionários que continuavam a trabalhar naquela unidade de saúde?
Naquele
dia em que eu não consegui abrir a porta do antigo centro cirúrgico, mesmo
usando as mesmas chaves, estaria acontecendo ali uma cirurgia espiritual?
A
enfermeira de nome Maria Helena, que tanto atrasou minha saída, estaria na
verdade me protegendo daquele acidente que talvez pudesse acontecer comigo?
Eu
conversei, realmente, com o espírito do Paulo Afonso desencarnado, que de certa
forma teria me ajudado oferecendo a carona protetora de Maria Helena?
E a
enfermeira Maria Helena, quem poderia ser, já que desapareceu misteriosamente e
ainda deixou um estranho perfume de flores dentro do meu carro?
Aquilo
seria uma intervenção divina?
Seria
ela mais uma das faces de Nossa Senhora da Rosa Mística?
São
Mistérios...
* História Verídica.
* Por motivos óbvios jamais
citarei os nomes verdadeiros das pessoas envolvidas nessa história e nem o nome
ou a localização exata daquele hospital. Anos depois descobri
que Maria Helena era muito parecida com a imagem abaixo:
Poxa que experiencia incrivel a que vc teve, um fato realmente legal pra deixar pra posteridade.
ResponderExcluirBj
Claudia
Cláudia, a dimensão espiritual existe sim
ResponderExcluire esta foi uma experiência daquelas que marcam agente para sempre ! Ficará eternizada...
Bjs
Olá, André, meu queridoooo, você é simplesmente encantador!!! eu que queria ganhar o teu livro no sorteio, acho o máximo as suas capas!
ResponderExcluirLembrando que temos uma enquete maluca la no blog, uma espécie de ginacana, e nós autores, apostamos um prêmio entre nós para quem ganhasse, e eu, rsss, convido a você para votar em meu humilde livro e amado o voo da estirpe, tá? Dia 10 tem sorteio!
Um bj bem grandão!
meu msn adrianavargas.ocadv@hotmail.com
Valeu Adriana, já está votado !
ResponderExcluirNas futuras enquetes quando for uma aquisição de versão impressa, eu irei participar também com certeza !
Bjs